Meu nome é BLÓGUI DÓGUI AMARAL AU-AU


Meu nome é BLÓGUI DÓGUI AMARAL AU-AU

Sou um poodle, quase TOY, que cresceu mais do que o esperado. Apesar do susto, minha dona continuou (e ainda é) tresloucadamente apaixonada por mim. Ela deve ser a mulher que serviu de modelo para a expressão FIDELIDADE CANINA. Um exemplar desses pobres e belos humanos...

Aqui, com sua ajuda, tentarei compreender a cabeça dessa mulher.

Enquanto isso, vou levando minha sempre curiosa VIDA DE CÃO.


Um domingo inesquecível


Faz muito tempo que brinco somente com adultos... - todos eles humanos. Um pessoal meio cansado que nem aguenta jogar bola por mais de uma hora. Mas, hoje... uauuu! O que é isso? Estou exausto! E até me escondi para recuperar o fôlego e descansar. Mas ela me achava, sempre. Ela: a Maria Fernanda, minha mais nova amiga, neta da Marlene.

Acho que nem dois poodles conseguem correr mais do que minha amiga. Nunca, em toda minha vida, corri tanto... e tão bem acompanhado! Depois, enquanto estava feliz de estrebuchado, ouvi uns comentários de que ela volta no próximo domingo. Hoje não daria mais mesmo. Ufaaa! Preciso de uma semana pra me recuperar.

Adorei o tal do réveillon!



Fiquei com minha dona, não me assustei com nenhum barulho e ganhei muito carinho. Feliz Ano Novo!

Amigas secretas e minha primeira ressaca


Pela primeira vez em minha vida fui dormir depois das três da madrugada. Bem que tentei antes, e cheguei a desmaiar no sofá, mas a gritaria das “amigas secretas” era tanta que não consegui.

Foram gritos e abraços (e pulinhos) o tempo todo. E risadas, muuuitas risadas. De minha parte, corri a me enturmar levando minha bolinha e dei uns bons latidos. Acho que gostaram, porque fui bem tratado, ganhando muitos afagos na cabeça. Foi divertido, mas tudo tem um limite e chegou certa hora em que eu queria trégua.

Só não entendi nada do motivo da festa. Todo mundo que estava na brincadeira é amigo da minha dona desde que eu me conheço por cão. Mas insistiam em uma história de “amiga secreta”. Secreta para quem? Estavam todas exatamente com o mesmo cheiro que eu já conhecia. Mesmo as que vieram com perfume novo. Sei lá. Deve ser mais uma daquelas coisas que minha dona olha pra mim e diz, com cara de compreensiva: “Blógui... Você não entende...”.


Um agradável reencontro

A Sônia foi a primeira pessoa que, além de minha dona, cuidou de mim em minha infância. Elas dizem que eu era bem pequeno e que a Sônia me salvava de cair do sofá, me fazia carinho, me dava água e comida, limpava as... – para as visitas minha dona diz “cacas” – que eu então deixava por toda a casa e me tirava do chão frio quando eu começava a dormir. Quase uma mãe...

Infelizmente, fomos separados antes de meu primeiro aniversário. Mas hoje a reencontrei. No começo fiquei desconfiado e dei acho que uns... dois latidos para aquela “estranha”, até que o cheiro dela me fez recuperar a memória. Depois foi só festa! Primeiro sentei ao seu lado, abanando o rabo de tanta alegria. Mas não resisti muito tempo lhe fazendo sala e logo tratei de aproveitar seu colo macio.

Aliás, preciso perguntar pra minha dona quando faço anos de novo.


Recebendo amigos em casa

Sou um cachorro que convive somente com gente. Aqui em casa vivem perguntando a mim (e principalmente uns aos outros) se não me sinto “muito solitário”. Confesso que não faço a menor ideia do que querem dizer, pois a maior parte do tempo estou ao menos com alguém por perto ou à vista (e além disso deixam seus cheiros pela casa inteira).

Hoje alguém teve a brilhante ideia de me trazer “visitas”. Pelo menos foi assim que disseram sorridentes, olhando bem para meus olhos, como se fosse alguma surpresa tão maravilhosa quanto um pacote inteiro de biscoitos. As tais “visitas” eram dois filhotes... machos. Fiquei morrendo de medo de que eles não fossem mais embora. Só consegui relaxar quando a casa voltou à normalidade, com seu único macho alfa (é assim que minha dona diz). Traduzindo, eu!




Um passeio e um colo

Recentemente minha dona voltou de uma viagem (interminável) e me levou a passear pelo bairro. Quase não dei conta de identificar tantos cheiros diferentes. Duas casas que viviam vazias agora têm gente morando, e fico pensando que gente será, porque a quadra está inundada com aromas que eu não suspeitava existirem. Que não há nenhum cachorro novo na minha rua, isso eu já sabia pelos latidos, e os odores da rua confirmaram. Mas alguma criatura muito esquisita andou se esfregando em uma touceira de grama, bem na esquina. Dei um salto de repulsa ao tentar identificar aquele cheiro medonho e sai correndo... Minha dona não entendeu nada, mas não quero nem passar por perto dali.

Foi muito bom passear, farejar e remarcar meu território com meu próprio aroma, tão familiar e reconfortante. Passei tanto tempo sem fazer isso (ninguém mais em casa passeia comigo) que meu cheiro já estava quase sumindo da vizinhança. Agora todos ficarão sabendo que continuo morando aqui — e passeando com minha dona!

Cheguei em casa exausto, ganhei água fresca e, nem preciso dizer, o carinho de um colo. Espero que minha dona agora fique muito tempo perto de mim.

Saudades da Sophia...





Faz semanas que não vejo a Sophia. Ela é a queridinha da minha dona e no começo, assim que a conheci, eu senti muito ciúme dela. Depois admiti que o cheiro dela era gostoso e descobri que ela tinha um gosto muito bom. Logo ficamos amigos. Mas ela desapareceu...

Minha dona me contou que ela viajou pra longe, para um lugar chamado Itália, e que vai demorar pra voltar. Um ano... Pela cara triste da minha dona, um ano deve ser muito tempo. Ficamos olhando essas fotos de quando eu era pequenininho, brincando com a Sophia. Eu adorava o jeito como ela me segurava... E não sobrou nem sequer uma almofada com o cheiro dela... Volta logo, Sophia!

Leishmaniose – uma doença do cão!

Minha dona, que cuida direitinho de minha saúde, está muito preocupada com uma doença de nome tão comprido que nem me cabe na boca: leishmaniose. Ela me leu (fiquei prestando atenção) umas palavras que nossos amigos do “Abrigo dos Bichos” escreveram, falando da doença:

Campo Grande, MS, 15 de setembro de 2010.

NOTA À IMPRENSA

Tendo em vista as recentes matérias relativas à Leishmaniose Visceral Canina (LVC) e após vários questionamentos recebidos da população e da mídia de modo geral, o Abrigo dos Bichos, no intuito de melhor esclarecer e ainda dirimir quaisquer dúvidas porventura restantes, informa:

a) Inconformado com a matança indiscriminada de cães - inclusive saudáveis – que vinha sendo praticada pelo CCZ como método de controle de leishmaniose em Campo Grande, MS, o Abrigo dos Bichos protocolizou uma Ação Civil Pública Ambiental Com Pedido de Liminar Com Antecipação de Tutela, que tramita atualmente na 1.ª Vara da Justiça Federal de MS, sob o nº. 0001270-04.2008.4.03.6000.

b) O Abrigo dos Bichos obteve no Tribunal de Justiça de MS uma Medida Liminar, cuja validade foi confirmada pelo STJ e pelo Tribunal Regional Federal da 3ª. Região, que determina ao CCZ de Campo Grande que:

b.1) Realize dois exames: Elisa e RIFI. Caso AMBOS constarem resultado positivo, INFORME ao proprietário que o animal é considerado soropositivo e AINDA que o Proprietário tem DIREITO a promover outro exame como CONTRAPROVA;

b.2) Neste, se confirmar o resultado positivo, a eutanásia só é possível mediante AUTORIZAÇÃO EXPRESSA E ASSINADA do proprietário.

b.3) Na hipótese da recusa da entrega do animal para eutanásia, o CCZ deve elaborar ao proprietário um Termo de recusa deste consentimento (para eutanásia) e de responsabilidade pelo tratamento do animal, sob supervisão de um Veterinário Responsável.

Ocorre que o CCZ de Campo Grande não vem esclarecendo corretamente a população, inclusive tem distribuído Nota à imprensa, via SESAU, como se a liminar lhe fosse benéfica quando, em verdade, esta apenas veio para impedir os desmandos praticados (de recolher e de matar os cães sem o consentimento de seus proprietários).

É pública e notória a campanha desenvolvida para realização de exames por esse órgão público. E, quando a doença é diagnosticada, a população é simplesmente pressionada a entregar os cães para eutanásia sob o argumento que os mesmos representam risco de transmissão da doença para outros animais e para os humanos.

O Abrigo dos Bichos NÃO É CONTRA os Centros de Controle de Zoonoses, quer seja de Campo Grande, quer sejam do Interior, mas, sim, contra uma política de saúde pública mal formulada e mal conduzida, pois, não será dizimando a população canina que teremos resolvida a questão da transmissibilidade da Leishmaniose haja vista que não há comprovação científica que a eutanásia vá erradicar a doença.

Eutanásia como medida de controle de leishmaniose é adotada apenas no Brasil. No resto do mundo, lança-se mão do tratamento dos animais infectados.

É importante salientar que o proprietário de um animal sabidamente portador de leishmaniose e que NÃO PROMOVA o tratamento necessário ou, na impossibilidade deste, a eutanásia do animal, incorre em CRIME contra a saúde pública.

O que o Abrigo dos Bichos deseja é a oportunidade de salvar vidas com a OPÇÃO DE TRATAMENTO dos animais contaminados pela leishmaniose e, ao mesmo tempo, alertar a população de sua responsabilidade.

Acreditamos que, se cada um fizer sua parte, todos sairão ganhando.

Abrigo dos Bichos
Adote essa ideia!

Maria Lúcia Costa Metello – Presidente
Angelo Dal Vesco – Diretor Financeiro

Depois que minha dona acabou de ler (e prestei bastante atenção mesmo – só me cocei uma vez), ganhei muitos afagos e um carinho inesquecível no meu queixo. E ela me falava sem parar sobre as vacinas que tomei e sobre o quanto eu sou amado. A primeira parte não fiz muita questão de lembrar, mas entendi a segunda muito bem.

Eu e minha amiga Fátima




Ela cuida de mim, me dá água fresca, ração novinha e ainda brinca comigo. Uma grande amiga... Como todo cachorro precisa ter.

Obrigado, Fátima!

A voz de minha dona


Tenho sentido muita saudade, mais muita mesmo, de minha dona. Depois que ela viajou, quase todos os dias escuto a voz dela saindo espremidinha de dentro de uma caixinha:

— Que saudades do meu cachorrinho! Como vai esse meu amor com peeelos? Blóóóguiii! Olá querido! Blógui Dóóóguiiii...

E sempre é a mesma história: quando me dou conta, já saí correndo e já pulei no colo do primeiro que vier desligar a campainha angustiante daquela caixinha que tem gente dentro. Fico apavorado, sem entender como minha dona fica escondida lá dentro, se ali mal cabe meu focinho. Fico esperando por ela, paralisado, apesar de meu rabo ficar batendo incontrolável, mais rápido que meu coração. E ela continua me chamando com voz calma, como se não estivesse acontecendo nada. Será que não dói ficar presa lá dentro? Depois, quando acaba, fico sentado na varanda, olhando, farejando, esperando... Quando será que ela vai sair do castigo? Por que não arranha a caixinha por dentro, pra alguém vir abrir? Será que ela dormiu?

Eu e o “banquinho” da arquiteta

  

Minha dona faz umas coisas que não entendo...

Hoje ela estava falando dos móveis que uma amiga dela sabe fazer e me mostrou uma porção de fotos. (Ela disse que essa amiga se chama Arquiteta Lolita. Que nome diferente ela tem.) Nas fotos as coisas ficam sem cheiro, mas mesmo assim reconheci um dos meus esconderijos de brinquedos, que ela chama de “banquinho”.

Me lembro bem desse dia. Minha dona estava revirando e remexendo meu banquinho-esconderijo de um lado e de outro (acho que estava tentando descobrir se eu havia deixado algum brinquedo nele) e resolvi chegar perto pra brincar também. Mas foi só eu sentar na frente e ela parou tudo. Então ficou me olhando e brincando de esconder o olho com uma caixinha preta que também tem um olho só e faz um barulhinho quando se aperta (acho que é algum brinquedo dela) e começou a rir, dizendo que eu estava “fazendo pose”.

Ainda não sei o que é isso, mas toda vez que paro na frente dela esperando pra começar a brincar, ela fala de novo que é “pose” e corre pegar a caixinha preta. Um dia ela até a deixou em cima do banquinho, mas nem tive vontade de pegar pra esconder, porque não tem cheiro de coisa macia e não deve ser gostoso de abocanhar. Que pena, porque se fosse ia caber direitinho no esconderijo que a amiga Arquiteta de minha dona sabe fazer.

BRASIL X HOLANDA... Que tristeza!


Não consigo animar minha dona. Ela está trancada no quarto desde que o jogo terminou. Não sei mais o que fazer...

Será que eles não podiam começar a brincar com a jabulani de novo?

BRASIL X PORTUGAL: Um bom cochilo


Minha dona ficou muito irritada durante o jogo e gritava “Vai! Não perde essa bola!”, “Olha o cruzamento!”, “Uhhhh!”. Eu fiquei fazendo companhia e até tentei alegrá-la com minha bola. Não deu certo... Mas tirei bons cochilos entre um grito e outro.

Uma coisa eu estou gostando dessa tal Copa do Mundo: minha dona tem viajado menos e ficado mais tempo comigo.

Bem que podia ter Copa todo dia. Mas igual a hoje: sem fogos. Assim posso cochilar bastante tomando conta de minha jabulani.

Minha “jabulani”, ou melhor, minha bola favorita


Tenho bolas de vários tamanhos e de muitas cores. Minha predileta é essa cheia de “pipoquinhas”, igualzinha à cor da grama. Mas que ninguém se engane: ela jamais consegue se esconder no meio de meu gramado, nem de noite, porque a cada dia que passa fica com cheiro mais interessante. Além do mais, ela está cada vez mais bonita, com marcas de meus dentes.

Taí outra coisa que não entendo no jogo de futebol (além daquele homem de preto com apito, que fica correndo pra cá e pra lá sem brincar). Por que não abocanham a jabulani? (Esse nome africano que deram para a bola é muito engraçado.) Minha dona também não abocanha quando brinca de jogar bola comigo, mas só agora, assistindo as brincadeiras da Copa, vi que ninguém nunca pega a bola com a boca! Me dá uma pena ver aqueles caras só correndo e chutando, tropeçando e caindo. Sei que uma bola daquele tamanho não cabe na boca de ninguém, mas se eles roessem um pouquinho por dia dava pra agarrar por algum cantinho...

Acho que a bola deles deve ter algum cheiro horroroso, porque nunca querem ficar com ela. Estão sempre chutando, chutando, cada vez pra mais longe, até para fora da grama. Mas continuam correndo atrás... Deve ser que nem aqueles bichinhos voadores que aparecem no meu gramado. Outro dia fiquei correndo atrás de um e minha dona falou que o bicho se chamava “maria-fedida” e que era para tomar cuidado. Nem liguei, porque a cor é igualzinha à de minha bola, e enquanto estava voando era a maior diversão, mas quando agarrei ficou com um cheiro insuportável, e um gosto pior ainda (deve ser igual à bola da Copa).

Acho que eles deviam trocar a tal jabulani por uma bola igual à minha. Ia ser muito mais divertido brincar e correr com a bola na boca. Além do mais, é a coisa mais óbvia do mundo: bola existe pra ser abocanhada!

Torcendo pelo Brasil e concorrendo a prêmios


Minha dona foi convidada a participar (comigo, é claro!) de um concurso para amantes de cachorro e de futebol.

Ela disse que todo mundo pode participar. Basta enviar uma foto de seu cão de estimação vestido como torcedor do Brasil, de verde e amarelo, para o site do “cão torcedor”:
http://www.nestle.com.br/purina/caotorcedor/#/home/

Os oito melhores torcedores serão contemplados, cada um, com um ano inteirinho de ração gratuita da saborosa marca Dog Chow - Purina, de 15 kg, entregues todo mês diretamente na residência dos vencedores, além de uma entrada para seus donos (com direito a acompanhante) para assistirem a uma palestra com Alexandre Rossi (que tem o apelido de Dr. Pet) e um kit de produtos muito elegantes (com boné, bandana e uma gostosa roupa canina).

Quem quer adotar essa garota linda?


Recebi uma cartinha, com fotos de tirar o fôlego, que estou postando aqui. Por favor, quem for adotar a “Linda” (minha sugestão para seu nome) deixe o endereço...

“Olá amigos!

Sou uma fêmea de pequeno porte, supersapeca e amorosa, que estava há muitos dias vagando pelas imediações do Parque Alvorada (na saída para o aeroporto de Dourados), à procura de comida, água e abrigo do frio. Quase fui atropelada na rodovia Guaicurus. Por sorte, uma tia estava passando e me recolheu. A minha tia me levou ao veterinário, onde tomei banho e fui medicada. Agora estou pronta para ser adotada. Serei castrada na próxima semana.

Se você gostou de mim e quiser me levar para casa, é só ligar no (67) 9971-6115. Prometo que vou me comportar bem e serei sempre leal a você. Mas se você não puder me adotar, repasse esta mensagem, para aumentar as minhas chances de ganhar um lar.

Obrigada!”

A cartinha veio de um pessoal muito bacana, do “Clube do Viralata de Dourados – MS”. Eles têm até um site (com dicas muito interessantes), onde já me inscrevi como um “fiel seguidor”. Para conhecê-los, basta acessar:
http://www.clubedoviralata.blogspot.com/

Essa tal “Copa do Mundo”...


Minha dona já me ensinou a gostar de assistir futebol, e não foi esforço nenhum. Afinal, adoro jogar bola! Se bem que meu jogo não tem chuteiras nem traves (e muito menos aquele homem que corre de roupa preta), mas somente o que interessa: um gramado verdinho pra perseguir a bola e abocanhá-la na hora certa, antes que ela decida mudar de caminho ou subir no telhado. Bola é das coisas mais interessantes que conheço, porque além daquele cheiro delicioso que tem quando chega em casa pela primeira vez, vai correndo e pegando todos os cheiros por onde passa.

Estou assistindo todos os jogos na sala, fazendo companhia a minha dona. Ela precisa, porque fica nervosa, se contorcendo. Diz que se contorce para o Brasil ganhar, mas desconfio que é de medo daquele barulho insuportável da vuvuzela e também porque já sabe que vão começar os fogos, que são a pior parte. (Tenho certeza que as pessoas conseguem farejá-los antes de explodirem, porque já começam a gritar e pular desesperados, e eu nunca percebo por quê.)

Eu não entendo bem as regras do jogo. O mais esquisito é que nas horas mais divertidas, quando todo mundo vai pra cima da bola, fazendo um bolo de gente, um homem de roupa preta apita e o jogo para. Acho que o apito faz a bola perder aqueles cheiros todos que ela vai pegando enquanto rola. Se eu conseguisse entrar naquele gramado tão verdinho, corria em ziguezague pelo meio de todos, agarrava aquele apito e trazia pra esconder aqui atrás das almofadas do sofá. Depois voltava pro colo de minha dona, com a camiseta de copa que ela me deu e continuava assistindo, até dar vontade de tirar um cochilo comprido...

Sei que quando o jogo acabar ela vai me acordar pra irmos à cozinha, o lugar mais gostoso da casa, melhor ainda que cheiro de bola que já correu bastante.

Meu primeiro bicho de estimação



Esse monstro verde, com quase o dobro de meu tamanho, me acompanha desde minha primeira pet shop, onde residi por dois dias a fio até a Eugênia me adotar. Por sorte, ela não se esqueceu de meu amigo monstro e o carregou junto comigo. Tenho um grande apreço e admiração por ele. Bem no começo de minha vida, com menos de dois meses, ele era meu companheiro de luta inseparável: travávamos batalhas inesquecíveis, mas ele nunca sequer me rosnou. Nesta foto, ele me deixou posar como um bravo caçador que acaba de subjugar sua enorme presa selvagem.

Mas ele tem umas coisas que não entendo... Apesar do pelo macio, lembro que perdi muitos dentes mordendo-o. Minha dona me explicou que eram meus dentes de leite que estavam caindo. Mas essa história sempre me pareceu mal contada, embora não tenha me desanimado de brincar com o monstro verde.

Uma pena que ele foi ficando pequeno com o tempo — aliás, como quase tudo a meu redor. Acho que foi por causa do excesso de banho. Toda semana! Eu só ficava ouvindo de longe: era “esse bicho sujo e babado” pra cá, “essa imundície” pra lá... Se não bastasse isso, quando eu tentava escondê-lo ela ainda o procurava chamando-o de “Hipopótamo”. (Até hoje nunca encontrei ninguém mais com um nome desses.) Uma vez, inclusive (ela achou que a cena não estivesse ao alcance de meus olhos), vi minha dona pô-lo pra dormir dentro daquela máquina em que ela dá banho nas roupas! Fiquei tão horrorizado que quase quis fugir de dentro de casa. É tanta água nesse coitado, que ele encolhe a olhos vistos. Acho que na minha próxima foto de vencedor mal dará pra vê-lo embaixo de minha pata.

Sempre achei que banho demais não faz bem. Por mim, eu tomava só um por ano, e olhe lá...

ANGEL



Apesar desse nome (“AN... GÉL...”), em nossos primeiros encontros ela não foi nem um pouco angelical. No dia em que a vi ela pulou no colo de minha dona, que a conhece desde bebê (isso deve fazer muuuuito tempo), e me fuzilou com o olhar. Como foi dolorido assistir aquela cena.

Olhando para ela, toda branca e pequena, fiquei inconformado de ter crescido tanto e tão rápido. Consegui engolir em seco e me controlei para não rosnar e arrancá-la daquele colo que sempre me pertenceu. Pela primeira vez na vida fiquei triste e temeroso, sentindo-me um cão abandonado. Mas minha dona se desdobrou em tantas e tão meigas palavras, mesmo com aquela lá em seu colo, que me convenci de que não tinha perdido meu lugar. Era só ter um pouco de paciência...

Controlando-me para não cometer alguma insensatez, resolvi ser diplomático, chegar perto para farejar melhor, mas por pouco não fiquei sem um pedaço da orelha. Minha dona continuou a segurá-la e a falar suavemente, explicando a ela quem eu era. Pouco adiantou. Na primeira oportunidade ela retornou toda estridente, latindo feito louca, pra me mostrar que eu não era bem-vindo.

Com o tempo estou aprendendo a lidar com essa intrusa e até quase a gostar dela um pouquinho, bem pouquinho, quando ela não está de maus bofes. Fiquei sabendo que minha dona uma vez escreveu uma “crônica” (foi o que ela disse) sobre a paixão que a Angel sente por ela. Levei alguns dias pra descobrir o significado dessa tal crônica, mas pelo que entendi foi um tipo de presente feito com palavras, assim meio verdade, meio mentira. Igualzinho ao que faço, abanando o rabo, pra Angel.

Quem sabe um dia a gente ainda aposta uma boa corrida de obstáculos em meu gramado. Quando ela estiver a toda velocidade, dou meia-volta voando e pulo no colo de minha dona. Primeirão!

Carne de amigo



Olhar desenhos, principalmente em jornais e revistas, é uma de minhas distrações prediletas, que só perde pra correr com minha dona, jogar bola e dar susto em passarinhos. Vi este desenho hoje em um jornal velho. (Jornais de diferentes idades têm cheiros inteiramente distintos. Quando eu crescer, posso até trabalhar em uma biblioteca para dizer ao dono a idade de cada livro, jornal ou revista. E a idade do dono também, só de cheirar um chinelo.)

Fiquei assustado com esse desenho. Deve ser o que chamam de “humor negro”, mas minha dona riu de meu espanto e só disse que era “uma charge do Jean Galvão”. Seja de quem for (e nem sei direito em que parte do corpo fica a charge), carne de amigo não deve ter sabor atraente. Além do mais, se a moda pega... quem vai nos carregar no colo, nos afagar, nos servir petiscos deliciosos? Fiquei mais confuso ainda quando minha dona falou alguma coisa sobre uma ração que ela usou recentemente. Foi o que ouvi. Comendo ração, ela também? Preciso prestar mais atenção no que anda acontecendo nesta casa.

A grama de meu jardim



Corro pela grama todos os dias. Minhas patas afundam no macio e o vento me puxa as orelhas pra trás, fazendo um barulho divertido. O prazer é maior se houver algum passarinho distraído procurando insetos no gramado. Saio zunindo pra cima dele, dando-lhe o maior susto.

Algumas plantas me impediam de correr em linha reta, mas descobri como utilizá-las em uma corrida com obstáculos. Com isso, também tenho treinado minhas curvas em alta velocidade, à exaustão. Minha dona ri às gargalhadas sempre que derrapo e viro cambalhotas. Por vezes, só pra diverti-la, faço curvas absurdas e rolo pelo gramado. (Ah, e ela sabe muito bem como eu me divirto também.)

Mas algumas coisas me deixam intrigado. Uma delas é como as pessoas se comportam com seus gramados. Quanto mais xereto e observo, menos entendo. Quando a grama está deliciosamente alta e massuda, que chega a roçar minha barriga, elas a aparam. A parte mais alta, bem fofa, desaparece e só ficam umas manchonas secas e duras que nem capacho. Fico olhando, cabisbaixo, procurando alguma sobra de meu gramado macio... E como demora pra ficar gostoso outra vez... Já tentei mostrar de todos meios possíveis minha tristeza e dessossego para minha dona (ela até tirou essa fotografia aí de cima, meses atrás), mas o que aconteceu? Acabei ganhando muito carinho e promessas, mas a grama continuou sendo aparada.

Quando é que vão entender que o jardim é meu?!

Um lar para o triste “Filé”



Recebi um e-mail de um cara chamado Filé que está procurando alguém que queira adotá-lo. E eu não iria conseguir tirar meus cochilos em paz e tampouco correr pelo gramado, sabendo que esse cara está tão desamparado. Veja se você pode ajudar, ou alguém que você conheça. Ele está em Sampa. Olhe suas fotos (dá pena ver a tristeza desse cara) e leia a sua história:

Olá, meu nome é Filé!

Sou um cãozinho de aproximadamente 6 meses de idade e não tenho raça definida. Eu provavelmente morei na rua até hoje e me virei até que bem sozinho por aí. Acontece que há mais ou menos uns 15 dias, eu sofri um acidente (acho que um carro me acertou forte!). Todas as pessoas que circulam por essa rua, que moram ou trabalham por ali, dizem que não viram nada e não sabem dizer bem ao certo o que aconteceu... Eu, para falar a verdade, não lembro muito bem...

Só sei que fiquei tão assustado que consegui entrar no fundão de um canteiro de plantas de um prédio e fiquei bem escondidinho ali, sem conseguir me mexer por um tempão. Acho que foram uns dois ou três dias inteirinhos... Algumas pessoas que me viram começaram a me trazer água e comida mas eu sentia dor e muito medo e não podia sair dali. Até que passou uma moça, com uma barriga grande, e me olhou lá no fundo do canteiro. Ela viu meus dois olhinhos brilharem e ficou um tempão conversando comigo, me chamando e tentando me convencer a sair dali... Eu gostei dela vir me ver mas, mesmo assim, não conseguia me mexer!

No dia seguinte ela voltou e trouxe uma outra amiga, elas juntas me puxaram lá de dentro — senti muita dor e chorei um montão mas, nessa hora, ela me prometeu que eu me sentiria melhor em breve. Acreditei e fui com ela muito bonzinho, sem reclamar! Ela me levou até um Doutor que me consultou, me deu remédios e me tratou. Aquela dor horrível aos pouquinhos foi passando e eu fui conseguindo melhorar... Ainda bem que não precisei ser operado!

Ufa! Agora já estou me sentindo muito melhor e posso andar e brincar como antes! Eu ainda estou ficando aqui, no consultório do Doutor que me curou e que foi tão bom comigo mas preciso achar um dono o mais rápido possível pois ele não pode me hospedar por mais muito tempo...

A moça “barriguda”, aquela que me ajudou, me disse que daqui a muito pouco também vai ter um outro “serzinho muito pequeno” que vai chegar (vai sair de dentro daquele barrigão dela!), e não vai dar pra cuidar de mim também na casa dela que é muito pequenininha. Sei que ela gostaria, mas acredito que seja verdade mesmo...

Então, o que eu realmente gostaria é de somente pedir também a sua ajuda para espalhar essa notícia e, quem sabe, me ajudar a achar um lar...

Por favor, mande meu apelo para seus amigos e conhecidos, só pelo email mesmo ou, ainda, só espalhe a notícia “de boca” ou, quem sabe, repasse esta cartinha para mais alguém. Eu irei para a minha nova casa prontinho: vitaminado, vacinado, vermifugado e castrado! Assim vou dar muito menos trabalho para o meu dono. Prometo!!!

Obrigado por ler minha história!
Filé

P.S. — Se alguém se interessar e quiser saber mais sobre mim, entre em contato por um desses e-mails:
a.c.albuquerque@uol.com.br
albuquerqueanaca@gmail.com
(estou em São Paulo, SP, e hoje é dia 3 de maio de 2010)

Minha almofada, meu esconderijo



Remexi as caixas de guardados da minha dona e encontrei estas fotos minhas. Ainda me lembro (como se fosse hoje) dessa almofada que foi meu primeiro refúgio durante as ausências da Eugênia. Eu fazia um esforço animal para arrastá-la e nunca conseguia. Ela era enorme, mas não poupei tentativas. Acabei por deixá-la com uns quantos rasgões...

Curioso como todos nos apegamos a certos objetos. Uma simples almofada, imensa... toda branca... Era um abrigo, um amparo, um afago. E tinha um cheiro tão bom... Bastava fechar os olhos para senti-lo mais forte, como se minha dona acabasse de entrar na sala. Nas suas dobras eu construía minha caverna, meu esconderijo, onde nenhum problema podia me alcançar.

Ela me acompanhou por meses a fio. Até que foi ficando pequena, pequena... cada dia menor, não sei por quê. Uma bela manhã, não servia mais para construir nenhuma caverna, nem mesmo para esconder o nariz. Não sabia que as coisas encolhiam tão rápido. Minha dona também não me avisou nada sobre isso. Só passou a chamar meu antigo esconderijo de “almofada encardida”.

Mafalda



Minha dona tem muitos gibis. Coleções do Ken Parker, Mafalda, Asterix, Valentina e outros. De todas elas, minha preferida é a da Mafalda, que minha dona diz ser filha de um argentino chamado Quino.

A coleção tem um aroma especial que ainda não consegui identificar, mas que exerce uma atração irresistível sobre mim. Quando a Eugênia percebeu meu interesse, tratou de deixar os exemplares à mão, ou melhor, à pata. Todo dia, quando ela senta para escrever em seu blog, eu corro a lhe fazer companhia. Procuro primeiro os gibis da Mafalda (que cada vez estão guardados em um lugar diferente – ela chama isso de "mania de organização"...) e, ao encontrá-los, derrubo todos no chão (também sei organizar a meu modo), deito em cima deles e fico investigando-os atentamente, ao lado dos pés de minha dona. Essas leituras me embalam e vou ficando tão sonolento...

Adoro adormecer ao lado dos pés da Eugênia, com o cheirinho dos gibis da Mafalda. Que pai sortudo esse Quino.

Como encontrei minha dona



Ela estava saindo apressada do caixa eletrônico, pronta para entrar na loja ao lado e comprar um presente, mas fixei meu olhar insistentemente e esperei que ela percebesse. Até hoje mal acredito no que aconteceu. Nossos olhares se cruzaram e percebi que ela hesitou. Pra mim bastava. Era um sinal. Apoiado nas patas traseiras, comecei a arranhar a tela de minha grade com força descomunal. Funcionou: ela se deteve, me olhando atentamente, sem mover um músculo. Senti o calor de seu olhar e não tive dúvidas: É ELA!

Que mulher decidida! Entrou na pet shop e me apontou: EU QUERO ELE!

Naquela noite, aconchegado em seu colo, ela me contou como havia se encantado comigo. Quando raspei a grade com vigor, com uma pata a cada vez, ela sentiu que eu a chamava desesperadamente. "Você me escolheu!", sussurou, "e não tive outra opção senão trazê-lo pra casa. E, aqui chegando, você se instalou como legítimo dono e tomou posse de tudo, até da minha almofada predileta." Rindo, ela me abraçou confessando que estava "cativa de dois olhos redondos e um nariz úmido e gelado". Deduzi que tal descrição pomposa se referia a mim, e lambi essa mulher com redobrado afã. E agora, lembrando-me disso tudo, nem consigo descrever mais nada. Me perdoem. Retorno assim que me aprumar (e arrumar um lugar gostoso pra dormir).

[Nas fotos: eu com 42 dias de vida, no dia que fui pra casa da Eugênia.]