Apesar desse nome (“AN... GÉL...”), em nossos primeiros encontros ela não foi nem um pouco angelical. No dia em que a vi ela pulou no colo de minha dona, que a conhece desde bebê (isso deve fazer muuuuito tempo), e me fuzilou com o olhar. Como foi dolorido assistir aquela cena.
Olhando para ela, toda branca e pequena, fiquei inconformado de ter crescido tanto e tão rápido. Consegui engolir em seco e me controlei para não rosnar e arrancá-la daquele colo que sempre me pertenceu. Pela primeira vez na vida fiquei triste e temeroso, sentindo-me um cão abandonado. Mas minha dona se desdobrou em tantas e tão meigas palavras, mesmo com aquela lá em seu colo, que me convenci de que não tinha perdido meu lugar. Era só ter um pouco de paciência...
Controlando-me para não cometer alguma insensatez, resolvi ser diplomático, chegar perto para farejar melhor, mas por pouco não fiquei sem um pedaço da orelha. Minha dona continuou a segurá-la e a falar suavemente, explicando a ela quem eu era. Pouco adiantou. Na primeira oportunidade ela retornou toda estridente, latindo feito louca, pra me mostrar que eu não era bem-vindo.
Com o tempo estou aprendendo a lidar com essa intrusa e até quase a gostar dela um pouquinho, bem pouquinho, quando ela não está de maus bofes. Fiquei sabendo que minha dona uma vez escreveu uma “crônica” (foi o que ela disse) sobre a paixão que a Angel sente por ela. Levei alguns dias pra descobrir o significado dessa tal crônica, mas pelo que entendi foi um tipo de presente feito com palavras, assim meio verdade, meio mentira. Igualzinho ao que faço, abanando o rabo, pra Angel.
Quem sabe um dia a gente ainda aposta uma boa corrida de obstáculos em meu gramado. Quando ela estiver a toda velocidade, dou meia-volta voando e pulo no colo de minha dona. Primeirão!
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