Tenho sentido muita saudade, mais muita mesmo, de minha dona. Depois que ela viajou, quase todos os dias escuto a voz dela saindo espremidinha de dentro de uma caixinha:
— Que saudades do meu cachorrinho! Como vai esse meu amor com peeelos? Blóóóguiii! Olá querido! Blógui Dóóóguiiii...
E sempre é a mesma história: quando me dou conta, já saí correndo e já pulei no colo do primeiro que vier desligar a campainha angustiante daquela caixinha que tem gente dentro. Fico apavorado, sem entender como minha dona fica escondida lá dentro, se ali mal cabe meu focinho. Fico esperando por ela, paralisado, apesar de meu rabo ficar batendo incontrolável, mais rápido que meu coração. E ela continua me chamando com voz calma, como se não estivesse acontecendo nada. Será que não dói ficar presa lá dentro? Depois, quando acaba, fico sentado na varanda, olhando, farejando, esperando... Quando será que ela vai sair do castigo? Por que não arranha a caixinha por dentro, pra alguém vir abrir? Será que ela dormiu?