Meu nome é BLÓGUI DÓGUI AMARAL AU-AU


Meu nome é BLÓGUI DÓGUI AMARAL AU-AU

Sou um poodle, quase TOY, que cresceu mais do que o esperado. Apesar do susto, minha dona continuou (e ainda é) tresloucadamente apaixonada por mim. Ela deve ser a mulher que serviu de modelo para a expressão FIDELIDADE CANINA. Um exemplar desses pobres e belos humanos...

Aqui, com sua ajuda, tentarei compreender a cabeça dessa mulher.

Enquanto isso, vou levando minha sempre curiosa VIDA DE CÃO.


Meu primeiro bicho de estimação



Esse monstro verde, com quase o dobro de meu tamanho, me acompanha desde minha primeira pet shop, onde residi por dois dias a fio até a Eugênia me adotar. Por sorte, ela não se esqueceu de meu amigo monstro e o carregou junto comigo. Tenho um grande apreço e admiração por ele. Bem no começo de minha vida, com menos de dois meses, ele era meu companheiro de luta inseparável: travávamos batalhas inesquecíveis, mas ele nunca sequer me rosnou. Nesta foto, ele me deixou posar como um bravo caçador que acaba de subjugar sua enorme presa selvagem.

Mas ele tem umas coisas que não entendo... Apesar do pelo macio, lembro que perdi muitos dentes mordendo-o. Minha dona me explicou que eram meus dentes de leite que estavam caindo. Mas essa história sempre me pareceu mal contada, embora não tenha me desanimado de brincar com o monstro verde.

Uma pena que ele foi ficando pequeno com o tempo — aliás, como quase tudo a meu redor. Acho que foi por causa do excesso de banho. Toda semana! Eu só ficava ouvindo de longe: era “esse bicho sujo e babado” pra cá, “essa imundície” pra lá... Se não bastasse isso, quando eu tentava escondê-lo ela ainda o procurava chamando-o de “Hipopótamo”. (Até hoje nunca encontrei ninguém mais com um nome desses.) Uma vez, inclusive (ela achou que a cena não estivesse ao alcance de meus olhos), vi minha dona pô-lo pra dormir dentro daquela máquina em que ela dá banho nas roupas! Fiquei tão horrorizado que quase quis fugir de dentro de casa. É tanta água nesse coitado, que ele encolhe a olhos vistos. Acho que na minha próxima foto de vencedor mal dará pra vê-lo embaixo de minha pata.

Sempre achei que banho demais não faz bem. Por mim, eu tomava só um por ano, e olhe lá...

ANGEL



Apesar desse nome (“AN... GÉL...”), em nossos primeiros encontros ela não foi nem um pouco angelical. No dia em que a vi ela pulou no colo de minha dona, que a conhece desde bebê (isso deve fazer muuuuito tempo), e me fuzilou com o olhar. Como foi dolorido assistir aquela cena.

Olhando para ela, toda branca e pequena, fiquei inconformado de ter crescido tanto e tão rápido. Consegui engolir em seco e me controlei para não rosnar e arrancá-la daquele colo que sempre me pertenceu. Pela primeira vez na vida fiquei triste e temeroso, sentindo-me um cão abandonado. Mas minha dona se desdobrou em tantas e tão meigas palavras, mesmo com aquela lá em seu colo, que me convenci de que não tinha perdido meu lugar. Era só ter um pouco de paciência...

Controlando-me para não cometer alguma insensatez, resolvi ser diplomático, chegar perto para farejar melhor, mas por pouco não fiquei sem um pedaço da orelha. Minha dona continuou a segurá-la e a falar suavemente, explicando a ela quem eu era. Pouco adiantou. Na primeira oportunidade ela retornou toda estridente, latindo feito louca, pra me mostrar que eu não era bem-vindo.

Com o tempo estou aprendendo a lidar com essa intrusa e até quase a gostar dela um pouquinho, bem pouquinho, quando ela não está de maus bofes. Fiquei sabendo que minha dona uma vez escreveu uma “crônica” (foi o que ela disse) sobre a paixão que a Angel sente por ela. Levei alguns dias pra descobrir o significado dessa tal crônica, mas pelo que entendi foi um tipo de presente feito com palavras, assim meio verdade, meio mentira. Igualzinho ao que faço, abanando o rabo, pra Angel.

Quem sabe um dia a gente ainda aposta uma boa corrida de obstáculos em meu gramado. Quando ela estiver a toda velocidade, dou meia-volta voando e pulo no colo de minha dona. Primeirão!

Carne de amigo



Olhar desenhos, principalmente em jornais e revistas, é uma de minhas distrações prediletas, que só perde pra correr com minha dona, jogar bola e dar susto em passarinhos. Vi este desenho hoje em um jornal velho. (Jornais de diferentes idades têm cheiros inteiramente distintos. Quando eu crescer, posso até trabalhar em uma biblioteca para dizer ao dono a idade de cada livro, jornal ou revista. E a idade do dono também, só de cheirar um chinelo.)

Fiquei assustado com esse desenho. Deve ser o que chamam de “humor negro”, mas minha dona riu de meu espanto e só disse que era “uma charge do Jean Galvão”. Seja de quem for (e nem sei direito em que parte do corpo fica a charge), carne de amigo não deve ter sabor atraente. Além do mais, se a moda pega... quem vai nos carregar no colo, nos afagar, nos servir petiscos deliciosos? Fiquei mais confuso ainda quando minha dona falou alguma coisa sobre uma ração que ela usou recentemente. Foi o que ouvi. Comendo ração, ela também? Preciso prestar mais atenção no que anda acontecendo nesta casa.

A grama de meu jardim



Corro pela grama todos os dias. Minhas patas afundam no macio e o vento me puxa as orelhas pra trás, fazendo um barulho divertido. O prazer é maior se houver algum passarinho distraído procurando insetos no gramado. Saio zunindo pra cima dele, dando-lhe o maior susto.

Algumas plantas me impediam de correr em linha reta, mas descobri como utilizá-las em uma corrida com obstáculos. Com isso, também tenho treinado minhas curvas em alta velocidade, à exaustão. Minha dona ri às gargalhadas sempre que derrapo e viro cambalhotas. Por vezes, só pra diverti-la, faço curvas absurdas e rolo pelo gramado. (Ah, e ela sabe muito bem como eu me divirto também.)

Mas algumas coisas me deixam intrigado. Uma delas é como as pessoas se comportam com seus gramados. Quanto mais xereto e observo, menos entendo. Quando a grama está deliciosamente alta e massuda, que chega a roçar minha barriga, elas a aparam. A parte mais alta, bem fofa, desaparece e só ficam umas manchonas secas e duras que nem capacho. Fico olhando, cabisbaixo, procurando alguma sobra de meu gramado macio... E como demora pra ficar gostoso outra vez... Já tentei mostrar de todos meios possíveis minha tristeza e dessossego para minha dona (ela até tirou essa fotografia aí de cima, meses atrás), mas o que aconteceu? Acabei ganhando muito carinho e promessas, mas a grama continuou sendo aparada.

Quando é que vão entender que o jardim é meu?!

Um lar para o triste “Filé”



Recebi um e-mail de um cara chamado Filé que está procurando alguém que queira adotá-lo. E eu não iria conseguir tirar meus cochilos em paz e tampouco correr pelo gramado, sabendo que esse cara está tão desamparado. Veja se você pode ajudar, ou alguém que você conheça. Ele está em Sampa. Olhe suas fotos (dá pena ver a tristeza desse cara) e leia a sua história:

Olá, meu nome é Filé!

Sou um cãozinho de aproximadamente 6 meses de idade e não tenho raça definida. Eu provavelmente morei na rua até hoje e me virei até que bem sozinho por aí. Acontece que há mais ou menos uns 15 dias, eu sofri um acidente (acho que um carro me acertou forte!). Todas as pessoas que circulam por essa rua, que moram ou trabalham por ali, dizem que não viram nada e não sabem dizer bem ao certo o que aconteceu... Eu, para falar a verdade, não lembro muito bem...

Só sei que fiquei tão assustado que consegui entrar no fundão de um canteiro de plantas de um prédio e fiquei bem escondidinho ali, sem conseguir me mexer por um tempão. Acho que foram uns dois ou três dias inteirinhos... Algumas pessoas que me viram começaram a me trazer água e comida mas eu sentia dor e muito medo e não podia sair dali. Até que passou uma moça, com uma barriga grande, e me olhou lá no fundo do canteiro. Ela viu meus dois olhinhos brilharem e ficou um tempão conversando comigo, me chamando e tentando me convencer a sair dali... Eu gostei dela vir me ver mas, mesmo assim, não conseguia me mexer!

No dia seguinte ela voltou e trouxe uma outra amiga, elas juntas me puxaram lá de dentro — senti muita dor e chorei um montão mas, nessa hora, ela me prometeu que eu me sentiria melhor em breve. Acreditei e fui com ela muito bonzinho, sem reclamar! Ela me levou até um Doutor que me consultou, me deu remédios e me tratou. Aquela dor horrível aos pouquinhos foi passando e eu fui conseguindo melhorar... Ainda bem que não precisei ser operado!

Ufa! Agora já estou me sentindo muito melhor e posso andar e brincar como antes! Eu ainda estou ficando aqui, no consultório do Doutor que me curou e que foi tão bom comigo mas preciso achar um dono o mais rápido possível pois ele não pode me hospedar por mais muito tempo...

A moça “barriguda”, aquela que me ajudou, me disse que daqui a muito pouco também vai ter um outro “serzinho muito pequeno” que vai chegar (vai sair de dentro daquele barrigão dela!), e não vai dar pra cuidar de mim também na casa dela que é muito pequenininha. Sei que ela gostaria, mas acredito que seja verdade mesmo...

Então, o que eu realmente gostaria é de somente pedir também a sua ajuda para espalhar essa notícia e, quem sabe, me ajudar a achar um lar...

Por favor, mande meu apelo para seus amigos e conhecidos, só pelo email mesmo ou, ainda, só espalhe a notícia “de boca” ou, quem sabe, repasse esta cartinha para mais alguém. Eu irei para a minha nova casa prontinho: vitaminado, vacinado, vermifugado e castrado! Assim vou dar muito menos trabalho para o meu dono. Prometo!!!

Obrigado por ler minha história!
Filé

P.S. — Se alguém se interessar e quiser saber mais sobre mim, entre em contato por um desses e-mails:
a.c.albuquerque@uol.com.br
albuquerqueanaca@gmail.com
(estou em São Paulo, SP, e hoje é dia 3 de maio de 2010)