Remexi as caixas de guardados da minha dona e encontrei estas fotos minhas. Ainda me lembro (como se fosse hoje) dessa almofada que foi meu primeiro refúgio durante as ausências da Eugênia. Eu fazia um esforço animal para arrastá-la e nunca conseguia. Ela era enorme, mas não poupei tentativas. Acabei por deixá-la com uns quantos rasgões...
Curioso como todos nos apegamos a certos objetos. Uma simples almofada, imensa... toda branca... Era um abrigo, um amparo, um afago. E tinha um cheiro tão bom... Bastava fechar os olhos para senti-lo mais forte, como se minha dona acabasse de entrar na sala. Nas suas dobras eu construía minha caverna, meu esconderijo, onde nenhum problema podia me alcançar.
Ela me acompanhou por meses a fio. Até que foi ficando pequena, pequena... cada dia menor, não sei por quê. Uma bela manhã, não servia mais para construir nenhuma caverna, nem mesmo para esconder o nariz. Não sabia que as coisas encolhiam tão rápido. Minha dona também não me avisou nada sobre isso. Só passou a chamar meu antigo esconderijo de “almofada encardida”.