Meu nome é BLÓGUI DÓGUI AMARAL AU-AU


Meu nome é BLÓGUI DÓGUI AMARAL AU-AU

Sou um poodle, quase TOY, que cresceu mais do que o esperado. Apesar do susto, minha dona continuou (e ainda é) tresloucadamente apaixonada por mim. Ela deve ser a mulher que serviu de modelo para a expressão FIDELIDADE CANINA. Um exemplar desses pobres e belos humanos...

Aqui, com sua ajuda, tentarei compreender a cabeça dessa mulher.

Enquanto isso, vou levando minha sempre curiosa VIDA DE CÃO.


Minha almofada, meu esconderijo



Remexi as caixas de guardados da minha dona e encontrei estas fotos minhas. Ainda me lembro (como se fosse hoje) dessa almofada que foi meu primeiro refúgio durante as ausências da Eugênia. Eu fazia um esforço animal para arrastá-la e nunca conseguia. Ela era enorme, mas não poupei tentativas. Acabei por deixá-la com uns quantos rasgões...

Curioso como todos nos apegamos a certos objetos. Uma simples almofada, imensa... toda branca... Era um abrigo, um amparo, um afago. E tinha um cheiro tão bom... Bastava fechar os olhos para senti-lo mais forte, como se minha dona acabasse de entrar na sala. Nas suas dobras eu construía minha caverna, meu esconderijo, onde nenhum problema podia me alcançar.

Ela me acompanhou por meses a fio. Até que foi ficando pequena, pequena... cada dia menor, não sei por quê. Uma bela manhã, não servia mais para construir nenhuma caverna, nem mesmo para esconder o nariz. Não sabia que as coisas encolhiam tão rápido. Minha dona também não me avisou nada sobre isso. Só passou a chamar meu antigo esconderijo de “almofada encardida”.

Mafalda



Minha dona tem muitos gibis. Coleções do Ken Parker, Mafalda, Asterix, Valentina e outros. De todas elas, minha preferida é a da Mafalda, que minha dona diz ser filha de um argentino chamado Quino.

A coleção tem um aroma especial que ainda não consegui identificar, mas que exerce uma atração irresistível sobre mim. Quando a Eugênia percebeu meu interesse, tratou de deixar os exemplares à mão, ou melhor, à pata. Todo dia, quando ela senta para escrever em seu blog, eu corro a lhe fazer companhia. Procuro primeiro os gibis da Mafalda (que cada vez estão guardados em um lugar diferente – ela chama isso de "mania de organização"...) e, ao encontrá-los, derrubo todos no chão (também sei organizar a meu modo), deito em cima deles e fico investigando-os atentamente, ao lado dos pés de minha dona. Essas leituras me embalam e vou ficando tão sonolento...

Adoro adormecer ao lado dos pés da Eugênia, com o cheirinho dos gibis da Mafalda. Que pai sortudo esse Quino.

Como encontrei minha dona



Ela estava saindo apressada do caixa eletrônico, pronta para entrar na loja ao lado e comprar um presente, mas fixei meu olhar insistentemente e esperei que ela percebesse. Até hoje mal acredito no que aconteceu. Nossos olhares se cruzaram e percebi que ela hesitou. Pra mim bastava. Era um sinal. Apoiado nas patas traseiras, comecei a arranhar a tela de minha grade com força descomunal. Funcionou: ela se deteve, me olhando atentamente, sem mover um músculo. Senti o calor de seu olhar e não tive dúvidas: É ELA!

Que mulher decidida! Entrou na pet shop e me apontou: EU QUERO ELE!

Naquela noite, aconchegado em seu colo, ela me contou como havia se encantado comigo. Quando raspei a grade com vigor, com uma pata a cada vez, ela sentiu que eu a chamava desesperadamente. "Você me escolheu!", sussurou, "e não tive outra opção senão trazê-lo pra casa. E, aqui chegando, você se instalou como legítimo dono e tomou posse de tudo, até da minha almofada predileta." Rindo, ela me abraçou confessando que estava "cativa de dois olhos redondos e um nariz úmido e gelado". Deduzi que tal descrição pomposa se referia a mim, e lambi essa mulher com redobrado afã. E agora, lembrando-me disso tudo, nem consigo descrever mais nada. Me perdoem. Retorno assim que me aprumar (e arrumar um lugar gostoso pra dormir).

[Nas fotos: eu com 42 dias de vida, no dia que fui pra casa da Eugênia.]